quinta-feira, 6 de junho de 2013

Sombra e projeção


Outro arquétipo com o qual nos deparamos é o da Sombra. Ela expressa tendências e impulsos que podem ser positivos ou negativos e que negamos em nós mesmos. Geralmente são defeitos e impulsos que não aceitamos como sendo nossos e, portanto, projetamos em outras pessoas (JUNG, 1986).
 
 
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..."defeitos e impulsos que não aceitamos como estando presentes em nós mesmos"...
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Para sermos mais precisos quanto à natureza da sombra, podemos dizer que se assemelha a variadas constelações, cada uma delas constituindo um "complexo psíquico". Por sua vez, cada complexo é composto por um conjunto organizado de imagens, palavras e emoções, formando uma estrutura autónoma e dissociada do eu consciente. Esta estrutura constitui uma "sub-personalidade" comparável a uma "personagem" de uma peça de teatro, autónoma, independente do encenador e dotada da sua própria personalidade.

Estes complexos surgem muitas vezes nos sonhos do homem. Por vezes exercem sobre ele uma influência tão forte que ele se sente literalmente possuído. Desta forma, o homem faz o que não quer e não pode fazer aquilo que desejaria, como lamenta S. Paulo ao falar do "homem velho" que há em si(*).

(*) Carta de S. Paulo aos Romanos 7, 19.

Post Scriptum
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Para se colocar diante da própria SOMBRA é preciso coragem. Podem vir à tona coisas desagradáveis, capaz de nos colocar em crise. É por isso que todos, de um modo geral, têm medo da SOMBRA. O próprio Platão, no Fédon já falava do temor da própria sombra. Temer a própria sombra é dizer-se uma pessoa medrosa e isto já era dito em 1532 na Alemanha.

Agora, o medo da própria SOMBRA conduz à projeção, e, por projeção vamos entender a transferência do próprio inconsciente para uma ou outras pessoas, coisas ou situações, o que geralmente se faz sem escrúpulo algum. É assim como uma transferência de responsabilidade, uma justificativa quando se é pego em erro, em algum tipo de falha moral, principalmente.

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Visto a sombra ser um arquétipo, seus conteúdos são poderosos, marcados pelo AFETO, obsessivos, possessivos, autônomos – em suma, capazes de alarmar e dominar o ego estruturado. Como todos os conteúdos capazes de se introduzir na consciência, no início aparecem na PROJEÇÃO e, quando a consciência se vê em uma condição ameaçadora ou duvidosa, a sombra se manifesta como uma projeção forte e irracional, positiva ou negativa, sobre o próximo. Aqui Jung encontrava uma explicação convincente não só das antipatias pessoais, mas também dos cruéis preconceitos e perseguições de nosso tempo.

 
 
 
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Projeção
A Sombra é mais perigosa quando não é reconhecida pelo seu portador. Neste caso, o indivíduo tende a projetar suas tendências indesejáveis em outros. Abaixo, um ótimo exemplo:

"Durante mais de 5 anos este homem percorreu a Europa como um louco,em busca de qualquer coisa a que pudesse deitar fogo. Infelizmente sempre haverá mercenários prontos a abrir as portas da sua pátria a este incendiário internacional."

A frase acima não é sobre Hitler, e sim de Hitler falando mal do primeiro-ministro inglês Winston Churchil!!

Desconfie se sua namorada tiver a paranóia de que você a está traindo, sem você ter dado motivo, ou daquele seu amigo que vive dizendo que todo mundo é gay. A Sombra é o oposto do ego e encarna, precisamente, o traço de caráter que mais detestamos nos outros. E aí lembro do espírito Joana de Ângelis, que diz que "o ódio é o amor distorcido". Na verdade, ao odiarmos, estamos sufocando algo que temos dentro da gente (por isso a ressonância) que cultivamos (quem cultiva, ama), mas não admitimos. Se não a cultivássemos, a Sombra não existiria desta forma. Daí a necessidade do caminho do meio, do equilíbrio. Se o ego for bem trabalhado nas 4 funções (pensamento, sentimento, sensação e intuição) não vai sobrar grandes opostos para a Sombra encarnar.

 

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