quinta-feira, 25 de julho de 2013

ACUSADO DE CRIAR UM PERSONAGEM LITERÁRIO


as pessoas acusavam CC de criar um personagem literário, simplesmente porque aquilo que relato para eles não coincide com o "a priori antropológico" as idéias estabelecidas em salões de conferência ou em trabalho de campo antropológico. Entretanto, o que DON JUAN apresentou para mim pode ser aplicado apenas a uma situação que requer ação total e, sob tais circunstâncias, muito pouco ou quase nada dos acontecimentos pré-concebidos
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P. Qual é seu objetivo de não permitir que sua pessoa seja fotografada, tendo sua voz gravada ou tornar a sua biografia conhecida? Poderia isto afetar o que você já adquiriu no seu trabalho espiritual e de que forma? Você não acha que isto poderia ser útil para alguns sinceros buscadores da verdade saber quem você realmente é como forma de corroborar que é realmente possível seguir o caminho que você proclama?

R. Em relação à fotografia e dados pessoas as outras três discípulas de DON JUAN seguem as instruções. Para um mestre como DON JUAN a idéia principal que está por trás de não fornecer dados pessoais é muito simples. É imperativo deixar de lado o que ele chama de "história pessoal". Fugir da maquinaria debilitadora do "eu" é algo extremamente irritante e difícil. O que os mestres como Juan Mattus buscam é um estado de fluidez perceptiva onde o "eu" pessoal não conta. Ele acreditava que uma ausência de fotografias e dados biográficos afetam a qualquer pessoa que entra neste campo de ação oculto numa forma positiva apesar de frequentemente sub-humana. Estamos acostumados a usar fotografias, gravações e dados biográficos, todos os quais emergem da idéia da importância pessoal. DON JUAN dizia que é melhor não saber nada, desta forma ao invés de encontrar uma pessoa, encontramos uma idéia que pode ser sustentada num campo de ação; o oposto do que acontece no mundo cotidiano onde nos deparamos apenas com pessoas que tem inúmeros problemas psicológicos, mas sem autentica liberdade para terem suas prórprias idéias, pois estão o tempo todo sob a pressão do meio social, onde cada coisa ou idéia tem um lugar predeterminado
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· Eu nunca vira Nestor tão jovial. Nas poucas ocasiões em que estivera com ele, no passado, ele me dera a impressão de ser um homem de meia-idade. Mas vendo-o ali sentado com seus dentes tortos, fiquei assombrado com sua aparência jovem. Parecia um rapazinho de seus 20 e poucos anos. Mais uma vez, Pablito leu meus pensamentos com perfeição.
- Ele está perdendo sua auto-importância. - disse ele. - É por isso que parece mais moço.
C.Castaneda
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Explicou que a fim de ajudar a apagar a história pessoal eram ensinadas mais três técnicas. Eram elas: perder a importância própria, assumir a responsabilidade e usar a morte como conselheira. A idéia era que, sem o efeito benéfico dessas três técnicas, apagar a história pessoal envolveria o aprendiz em ser furtivo, evasivo e desnecessariamente vacilante quanto a si e seus atos.
idem
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· Você se leva a sério demais - disse ele, devagar. – É muito importante, na sua concepção. Isso tem de mudar! Considera-se tão importante que acha que tem razão para se aborrecer com qualquer coisa. É tão importante que pode ir embora, se as coisas não lhe agradam. Imagino que você pense que isso demonstra força de caráter. Isso é besteira! Você é fraco e convencido!
Tentei protestar, mas ele não deu atenção. Mostrou-me que em minha vida eu nunca chegara a terminar nada por causa daquela idéia despropositada de importância que eu dava a mim mesmo.
Eu estava assombrado diante da certeza com que ele dizia as coisas. Era verdade, é claro, e isso me deixava não só zangado, mas também ameaçado.
- A importância própria é outra coisa que tem de ser abandonada, assim como a história pessoal - explicou, num tom teatral.
Eu certamente não queria discutir com ele. Era óbvio que eu levava uma desvantagem tremenda;
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· Fomos para o chaparral do deserto seguindo uma direção sul. Falou repetidamente enquanto andávamos que eu tinha de estar ciente da inutilidade de minha importância própria e de minha história pessoal.
- Seus amigos - disse ele, virando-se para mim de repente.
- Aqueles que o conhecem há muito tempo, você tem de abandoná-las rapidamente.
Achei que ele estava maluco e que sua insistência era idiota, mas não disse nada. Olhou bem para mim e começou a rir.
Viagem a Ixtlan – pág. 40
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Falou que seu benfeitor tinha concedido tempo e cuidado especiais para ele e seus discipulos em relação a tudo que pertencia ao aperfeiçoamento da arte de espreitar. Usava técnicas complexas para criar um contexto apropriado para uma contrapartida entre os ditames do regulamento e o comportamento dos praticantes no seu mundo diário, quando eles interagiam com as pessoas. Acreditava ser essa a forma de convencê-los de que, na ausência da auto-importância, o único modo de um praticante de nagualismo lidar com o meio social era em termos de ''loucura controlada''.
Ao longo do desenvolvimento de suas técnicas, o benfeitor de Dom Juan lançava as ações das pessoas e as ações dos praticntes contra as exigências do regulamento, e então se retirava e deixava o drama natural se desenrolar por si próprio. A loucura das pessoas tomava a frente por algum tempo e arrastava os praticantes consigo, como parece ser o curso natural das coisas, e só se recompunha no final, com os desígnios mais abrangentes do regulamento.
Presente da Águia - pág. 171
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