terça-feira, 27 de agosto de 2013

Espada, Cruz e Palavra.



Remeter os poetas malditos á sua origem xamâmica é algo que imediatamente me faz lembrar o ensaio da crítica argentina Graciela Maturo, amiga de Cortázar, que traduzi fragmentáriamente para postar no meu blog ''O POEMA COMO VIA DE ACESSO AO SAGRADO'', do qual cito (ou colo) uns pedaços ainda mais fragmentados: ''(... A abertura da consciência aos dados imediatos da natureza, constitui o primeiro passo de um processo cognitivo que põe em marcha a faculdade SIMBOLIZANTE, o poder de dar sentido ás imagens inicialmente caóticas que vê......................O poeta pratica um modo de contemplação próprio das disciplinas mistéricas: é um irregular, dizia Claudel, que põe em ato espontâneamente os passos de um místico contemplativo, um yogui ou um iniciado em mistérios antigos.....................Contemplar leva em si a raiz de templum, e com efeito, designa o ingresso em uma atmosfera irracional, que amplia o campo do conhecimento e faz possível a apropriação de um novo nível de realidade...................Uma antiga tradição, vertebrante na cultura ocidental, afirma o valor INICIÁTICO da poesia e das artes em geral, que os gregos agruparam no âmbito sagrado da ''MOUSIKÉ''. Simbolizada na legendária figura de Orfeu, a tradição órfica foi - mais que uma filosofia - o fruto de uma religião mistérica ligada ao cultivo da terra e á iniciação espiritual (Eliade, 1960; Álvarez de Miranda, 1961)............................ E se continuou assim uma noção encantatória da linguagem poética que é afirmada desde o Livro dos Mortos egípicio até certas obras de estudiosos modernos da poesia (Ghyka, 1938, 1949; L. S. Z. Galtier, 1965; Azcuy, 1966). ................................. A mirada poética abre a realidade do mundo e promove a emergência do subconsciente transcendental, señalado como meta por Federico von Hardenberg, conocido como Novalis: A TAREFA SUPREMA DE TODA E QUALQUER CULTURA CONSISTE EM APODERAR-SE DO SUBCONSCIENTE TRANSCENDENTAL, CONVERTENDO-O EM TERRITÓRIO VISITÁVEL Á TODOS (Novalis, 1948, p.51)......................A escola órfico-pitagórica atribuía esta necessidade á essencia musical da alma, que ao sintonizar os ritmos cosmicos das zonas avançadas do subconsciente tomava consciencia de sua origem divina...........................Em tais instâncias de reconhecimento intelectual de seu próprio ofício, a menudo aparece no poeta um redescobrimento do MITO. è prório do poeta e absolutamente natural que ele se instale e sinta-se á vontade dentro do PENSAMENTO MÍTICO, confundindo-se e reconhecendo-se em seus personagens, como o fizeram com Orfeu os poetas Jean Cocteau y Rosamel del Valle, o con Narciso, Paul Valéry y José Lezama Lima..........................Dentro de esa circularidad, el lenguaje se afirma como función inexcusable. En otros términos lo anticipaba el maestro Swedenborg: La palabra es el puente entre la tierra y el cielo.

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[...] a palavra guerreira, rebelião, absorve os antigos significados de revolta
e revolução. Como a primeira, é protesto espontâneo frente ao poder;
como a segunda, encarna o tempo cíclico que põe acima o que estava
abaixo, em um girar sem fim. O rebelde, anjo caído ou titã em desgraça, é
o eterno inconformado. Sua ação não se inscreve no tempo retilíneo da
história, domínio do revolucionário ou do reformista, mas no tempo
circular do mito: Júpiter será destronado, Quetzacoatl voltará, Luzbel
regressará ao céu. Durante todo o século XIX o rebelde vive à margem. Os
revolucionários e os reformistas o vêem com a mesma desconfiança com que Platão vira o poeta e pela mesma razão: o rebelde prolonga os
prestígios nefastos do mito.
(OCTAVIO PAZ, 1972, p. 265)

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A espada é também um emblema da palavra, e no México o soberano era intitulado Tlatoani, "Aquele que fala".O símbolo da espada ressurge com força na esperada última encarnação de Vishnu, o Kalki Avatar, comumente representado sobre o seu cavalo branco brandindo uma cimitarra, de modo semelhante a como aparece no Apocalipse com seu arco ou com uma espada na boca, representando assim o Verbo ou o Logos.
 

 

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espada e cruz eram virtualmente identificados no costume cavaleiresco Cristão ; a espada, pelo menos, pode ser usada como um substituto para a cruz de madeira e do mesmo jeito como uma arma apotropaica e aureolada, banindo os espíritos maus.

 
rO herói solar, em outras palavras, possui ele mesmo o aguilhão do Dragão ( do Pai ), "espada" que ele na realidade devolve aos deuses mas que em semelhança feita por mãos e potencializada com ritos apropriados torna-se um verdadeiro palladium, um talismã "caído do céu" ( διοπετείς = divo-patita ), seja como objeto de culto em santuário Shinto ou "simbolizando a alma do samurai e enquanto tal objeto de sua veneração." A veneração do dr. Holtom é, contudo, dificilmente a palavra correta aqui. A espada de um samurai é pensada ambos como si mesma ou alma própria ( tamashii ) ou como alter ego e também como incorporação de um princípio guardião ( mamori ), e assim como um protetor, espiritual e fisicamente. A primeira concepção, aquela da espada como extensão da essência de alguém, carega uma semelhança aproximada com a doutrina do Brhad-devata I, 74, onde a arma de um Deva "é precisamente sua feroz energia" ( tejas tv evayudham ... yasya yat ), e IV, 143, onde inversamente o Deva "é sua inspiração" ( tasyatma bahudha sah, melhor talvez "é hipostasiado nela" ). A espada do Templário é do mesmo modo um "poder" e extensão de seu próprio ser e não um "mero instrumento" ; mas somente alguém de fora ( 'out-side' ) ( pro-fanus ) falaria de um cruzado como "venerando" sua espada..
 
 
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http://portalpineal.blogspot.com.br/2013/07/tlatoani-zaratustra-fursprecher-cristo.html
 

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