domingo, 27 de outubro de 2013

Como lidar com os sinais que antecedem um sonho lúcido


Cleber Monteiro Muniz - 2001

Fonte:
http://gballone.sites.uol.com.br/colab/cleber2.html#2


Quando nos posicionamos para repousar e começamos a relaxar, surgem sinais que indicam a aproximação progressiva do estado letárgico.

A percepção consciente desses sinais é útil por nos avisar a respeito da necessidade de maior cuidado uma vez que em tal momento a hora de deixar o estado vigil está chegando. Temos sempre a tendência de crer que estamos longe da transição para o sono, mesmo quando ela está bem próxima.Essa crença equivocada se baseia na idéia inconsciente de que não há uma vigília em estados corporais profundamente letárgicos e em meio a cenas oníricas. Supomos que o fato de estarmos um pouco despertos é um indicador de que estamos longe do sono.

A aproximação progressiva do adormecimento corporal pode ser identificada pela maior nitidez das vozes internas. Poucos instantes antes de adormecermos, as vozes interiores falam em nossa cabeça com nitidez cada vez maior. A progressão da nitidez é sutil e acontece paralelamente ao processo de aprofundamento do sono.

Na medida em que o processo letárgico corporal aliado ao despertar conscientivo no mundo psíquico avança, as vozes são ouvidas como se fossem físicas e são acompanhadas por endopercepções de teores não-sonoros: visuais, táteis, gustativas e olfativas. Todas chegam à consciência com nitidez e intensidade equivalentes às proporcionadas pelas percepções externas e às vezes até maiores. Isso se deve ao alto grau de numinosidade das imagens internas.

Nessa etapa, tendemos a perder a vigilância devido ao poder altamente hipnótico dos pensamentos. Deveríamos intensificá-la e acompanhar a experiência para esperar o resultado.

A maioria dos praticantes que tentam alcançar as experiências oníricas conscientes tendem a reagir às primeiras imagens numinosas com espanto, medo, ansiedade, curiosidade ou uma imensa euforia por estarem adentrando a um mundo extrafísico. Essas reações podem afugentá-las, fazendo a prática fracassar.

O praticante precisa manter a constante recordação de que está presenciando uma realidade onírica e fantástica que corresponde ao seu universo imaginal, sendo totalmente distinta da realidade física. Se essa recordação for perdida, ele fica submetido ao poder hipnótico das imagens, se torna vítima de sua numinosidade e perde o estado positivo alterado de consciência, caindo em um sono/sonho usual. A experiência transcendente fracassa quando nos esquecemos que estamos em contato com cenas de um mundo onírico. Não devemos confundir a realidade externa com a interna, devemos discernir.

O recomendável é não reagir aos primeiros sinais com nenhum tipo de surpresa ou euforia e, ao mesmo tempo, conseguir acompanhá-los. Para tanto o ego deve ficar "amarrado". É preciso observar os sinais iniciais em imobilidade psíquica total, como se faz ao observar animais selvagens, e acompanhar seus movimentos subseqüentes sem espantá-los. Qualquer movimento brusco ou sutil do ego, seja de tipo sentimental ou intelectual (tentativa de entender ou encaixar o que está sendo visto em preceitos lógicos conhecidos etc.), os afugenta.

O trabalho é árduo porque temos que unir dois extremos: observar os sinais e, ao mesmo tempo, não afugentá-los. São dois processos que normalmente não se combinam muito, não se realizam simultaneamente. Também não devemos nos fascinar por nenhuma imagem mas sim receber seu caráter numinoso sem com ele nos identificarmos.
Procedendo assim, vamos muito longe na experiência.

Dormimos para este mundo e acordamos para o outro.

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