terça-feira, 1 de outubro de 2013

Faulkner e o mimetismo antropofágico

 
William Faulkner
 
À parte os processos psicológicos, que se mostram débeis na caracterização e na compreensão de todo gênio, o que se intenta é compreender o caráter do mimetismo antropofágico praticado por William Faulkner, das metamorfoses que pratica com os textos que lhe chegam às mãos, das interferências metamórficas, publicando um poema com o título do poema de Mallarmé, escrevendo uma paródia desse mesmo poema. E mais: traduções de simbolistas franceses que assinava como se fossem suas, a tradução de Sapphics de Swinburne em seu nome, a alteração do próprio nome, a criação de uma genealogia para figurar na capa de O Fauno de Mármore, em que o pai é omitido, roubando o título do romance de Nathaniel Hawthorne.


Tudo isso parece oscilar entre a encenação obsessiva, ostensiva dos DUPLOS, em

um certo momento de sua carreira em que, como afirma Sensibar, "os limites entre a fantasia e a realidade se encontravam particularmente nublados", e a plena consciência artística de que um tal caminho é inelutável, de que a produção e a reprodução de DUPLOS é destino humano, de que a reprodução mimética é a principal ferramenta que o artista encontra já pronta para ser usada, que faz parte do arsenal humano, bastando para isso que se estenda a mão. Faulkner uma vez foi indagado sobre se consciente ou inconscientemente estabelecera um paralelo entre Enquanto Agonizo e The Scarlet Letter, de Hawthorne, e afirmou:


Não, um escritor não tem que traçar paralelos conscientes porque ele rouba e se apropria de tudo o que já escreveu, leu ou viu. Eu me apropriei de tudo que precisava onde quer que encontrasse, sem qualquer compunção e sem nenhum senso de violação da ética ou de ferir alguém porque qualquer escritor sente que quem quer que venha depois dele tem todo o direito de se apropriar de qualquer truque que ele aprendeu ou qualquer enredo que ele tenha usado. É claro que não sabemos de quem Hawthorne tomou de empréstimo. O que ele provavelmente fez, pois há tão poucos enredos sobre os quais se escrever.
 

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