quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O escritor é um amanuense de algo que ignora

 
Jorge Luís Borges
 
 
 ''Vemos na primeira linha - eu não sei grego - da Ilíada de Homero, que lemos na versão tão censurada de Hermosilla: ''Canta, Musa, a cólera de Aquiles''. Ou seja, Homero, ou os gregos que chamamos de Homero, sabiam, sabiam, que o poeta não é o cantor, que o poeta (o prosador, o escritor) é simplesmente o amanuense de algo que ignora e que em sua mitologia chamava de A Musa. Em compensação os judeus preferiram falar do Espírito, e nossa psicologia contemporânea, que não adoece de excessiva beleza, da Subconsciência, do Inconsciente Coletivo, algo assim. Mas, enfim, o importante é o fato de que o escritor é um amanuense, ele recebe algo e trata de comunica-lo, o que recebe não são exatamente certas palavras em uma certa ordem, como queriam os judeus, que pensavam que cada sílaba havia sido prefixada. Não, nós pensamos em algo muito mais vago do que isso, mas em todo caso em receber e comunicar algo''.

Jorge Luís Borges.
 
Post Scriptum
 
Penetrar nesta problemática é para nós tanto mais importante quanto recordar que André Breton, "pai" do movimento surrealista, sugeriu que o surrealismo "repousa numa crença na realidade superior de certas formas de associação negligenciadas até aí, no forte poder da ruptura do nível de consciência habitual, no jogo desinteressado da meditação ativa e criativa do pensamento". Somente os artistas que tentaram dar à imaginação iniciática e aos estados superiores de consciência um papel fundamental - e por isso libertador - nas suas composições, apresentaram para os primeiros surrealistas um autentico interesse (caso de Bosch). Por quanto o que lhes interessava e fundamentava era a transfiguração e a interpenetração dos dois  planos de consciência num só.
 
Excelente complemento:
 


Conversando com Jorge Luis Borges

 
Macedônio Fernandes e Jorge Luís Borges
 


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